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3 anos sem Kathlen Romeu e seu bebê.

Por: Mariana de Paula

 

3 anos se passaram…

No dia 08 de junho de 2021, uma jovem negra foi assassinada aos 24 anos no Complexo do Lins, na cidade do Rio de Janeiro, ao ir visitar sua avó. Era um dia comum, uma terça-feira de mais uma semana. Kathlen de Oliveira Romeu era o nome dela.

Kathlen carregava um bebê em seu ventre e, junto dele, um mundo de sonhos. Um sonho de sair da comunidade em que foi criada junto com sua família, às vésperas de se realizar – havia financiado uma casa para criar sua filha ou filho junto com o namorado. Um sonho de ser mãe. Um sonho de alçar novos voos e conquistar novos espaços. Um sonho que virou pesadelo. Kathlen e seu bebê se foram, assassinados pelas mãos do Estado, em uma política de segurança pública que mina o povo negro de todas as formas. Ficam familiares e amigos destroçados sem a amiga, a namorada, a filha, a neta, a colega de trabalho, a parceira da faculdade.

3 anos se passaram.

Sem respostas, sem apoio, sem justiça, sem o direito à memória.

O mesmo povo negro chorando pelos seus, repetidamente ao longo da história. Essa é uma das faces do pacto da branquitude da sociedade brasileira, que naturaliza que muitos de nós, enquanto pessoas negras, não tenhamos nada. Esse pacto que nos impede de sonhar, nos mata antes mesmo de nascermos, nos destrói sem nos dar a chance de nos reerguermos. Que tipo de ameaça nós somos? Por que a nossa dor não é legítima?

3 anos se passaram.

Qual justificativa sustenta essa escolha cruel de trazer a letargia na resolução do caso? Um caso emblemático, de mais um crime praticado pelo Estado que segue impune. De uma justiça que não se materializa aos olhos de quem vive com a dor, mas que é capaz de prender jovens negros em tempo hábil. De uma sociedade que se acostumou a ver famílias negras chorando pelos seus entes queridos, vítimas de uma tentativa constante de naturalizar o homicídio da população negra e de esvair qualquer possibilidade de memória. Mas não com a Kathlen.

3 anos se passaram, mas sua memória é à prova de balas. Se existe um povo que assume um pacto e fecha os olhos para a forma como a política de violência deste país atua, existe outro povo maior ainda que diariamente estabelece o combinado de não cair, não ceder e lutar por justiça.

Justiça por Kathlen Romeu e seu bebê.

Justiça por Agatha Félix.

Justiça por João Pedro.

Justiça por Thiago Flausino.

Justiça por cada jovem negro que, a cada 23 minutos, é assassinado no Brasil.